Poucos procedimentos médicos estão tão cercados de mitos quanto a VASECTOMIA. São inúmeros os medos e incertezas que os homens que se propõe a realizar a vasectomia experimentam. Além disso, é claro, não podemos esquecer que, por ser um procedimento de realização bastante frequente, são inúmeras as piadas e histórias contadas por amigos e familiares ao infeliz candidato à vasectomia trazendo as mais diversas experiências e alimentando ainda mais os medos.

Então, fica sempre a dúvida: onde está a verdade? É bom sempre começar um texto como esse lembrando que a verdade não é única. As experiências pré e pós-cirúrgicas são extremamente individualizadas e influenciadas pelos mais diversos fatores como: experiências cirúrgicas prévias (boas ou más!!!), a própria falta desta experiência também pode ser um fator, sensibilidade à dor do indivíduo, influência da família e dos amigos (as histórias contadas antes da cirurgia podem ser arrasadoras!!!!), nível de ansiedade e por aí vai uma lista que não tem fim.

A “verdade” em medicina pode ser interpretada como uma média em torno da qual a maioria dos pacientes vivem suas experiências, o que não quer dizer que não existam as exceções, os casos que fogem da média. Lamentavelmente, esses casos de exceção acabam tornando-se aparentemente mais frequentes do que realmente são, exatamente porque apresentam alguma característica especialmente trágica ou especialmente boa e são mais “divulgados” nas conversas entre familiares e amigos.

Então vamos lá!!!!

  • A vasectomia é uma cirurgia indolor.

MITO. Ainda não foi inventada uma maneira de realizar a vasectomia sem aplicar uma injeção para anestesia e sem ao menos um pequeno corte no escroto, uma vez que sem cortar a pele não podemos acessar os ductos que devem ser cortados na vasectomia. Mesmo que durante o procedimento a anestesia realizada possa minimizar ou até mesmo zerar a dor, depois de terminado o efeito da anestesia mesmo com os analgésicos prescritos é muito difícil acabar totalmente com a dor especialmente porque o escroto e os testículos são muito sensíveis aos estímulos dolorosos. A dor do corte e da própria manipulação cirúrgica, na maioria dos casos, vai diminuindo com o tempo após a cirurgia e permanece por alguns dias após o procedimento.

É óbvio que todos já ouvimos histórias do amigo do fulaninho que fez a vasectomia e trabalhou no dia seguinte e também do primo do beltrano que ficou 3 meses com dor no escroto após a vasectomia. Ambas as histórias são provavelmente reais, mas representam casos de exceção. É recomendável permanecer alguns dias em repouso após o procedimento para adequada recuperação.

  • A vasectomia engorda.

MITO. De jeito nenhum!!!!! Se engordou, foi porque comeu demais ou parou de fazer exercício ou os dois!!! Não podemos confundir a castração dos animais que retira os testículos dos mesmos e que de fato leva ao aumento de peso com a vasectomia que é um procedimento no qual são cortados e “amarrados” os ductos deferentes que são os “canos” que conduzem os espermatozoides produzidos nos testículos para as vesículas seminais onde aguardarão até o momento da ejaculação.

  • A vasectomia é um procedimento simples.

VERDADE. Quando comparada à ligadura tubária ou “laqueadura” da mulher, a vasectomia tem um porte bem menor. Enquanto a “laqueadura” é um procedimento que requer internação hospitalar formal e anestesia geral ou raquianestesia, a vasectomia dura em torno de 20 a 30 minutos e pode ser feita em regime ambulatorial com anestesia local sem necessidade de internação.

É importante ressaltar que apesar de ser um procedimento de pequeno porte, a vasectomia é sim um procedimento cirúrgico e como qualquer outro pode ter complicações como infecções, sangramento com formação de hematomas, entre outras. Então se cuide pra ter um pós-operatório tranquilo!!!

  • A vasectomia é 100% segura.

MITO. Não há procedimento médico 100% seguro!!! Com a vasectomia não é diferente. De qualquer forma a segurança da vasectomia é muito alta, mais alta, por exemplo, que o uso do anticoncepcional oral feminino (no qual muitos confiam sem nem questionar). A grande maioria das falhas acontece nos primeiros meses após a cirurgia e é fundamental realizar o espermograma para se assegurar do sucesso da cirurgia.

  • Mesmo com o espermograma “zerado” depois da vasectomia ainda há risco de gravidez.

VERDADE. Diversos são os relatos de homens que tiveram filhos após vasectomia. Essas histórias sempre assustam os homens vasectomizados trazendo insegurança quanto ao método. A verdade é que a maioria dos homens que tiveram filhos após a vasectomia não realizaram o espermograma após a cirurgia e, portanto não se asseguraram do resultado da mesma.

Uma vez realizado o espermograma após a vasectomia e o resultado demonstrar um espermograma “zerado” (azoospérmico) a chance de recanalização espontânea, ou seja, de que os espermatozoides voltem a passar pelo ducto deferente e sejam ejaculados é em torno de 1 a cada 2000.

  • Existe uma técnica de vasectomia sem corte.

MITO. Há muitas variações nas técnicas de vasectomia e em última instância todas tem o mesmo objetivo que é cortar e “amarrar” os ductos deferentes dos dois testículos. Para acessá-los é preciso cortar a pele. Podem ser feitos dois cortes, um de cada lado ou um corte central e esses cortes podem ser feitos de varias formas, mas invariavelmente a pele vai ser aberta e haverá uma ferida mesmo que pequena. Não se engane!!!

  • É possível trabalhar no dia seguinte após a vasectomia.

MITO. A maioria dos homens tem algum grau de dor no pós-operatório que vai impedir ou mesmo dificultar o trabalho nos dias subsequentes à cirurgia.

  • A vasectomia pode interferir na potência sexual.

MITO. Não mesmo!!! A cirurgia funciona como um método puramente obstrutivo e não interfere de forma alguma na função tanto do pênis quanto dos testículos, que inclusive, continuam a produzir espermatozoides. Sendo assim as alterações da potência sexual que eventualmente possam ocorrer após o procedimento tem fundo psicogênico ou podem ser mera coincidência.

  • O esperma fica diferente após a vasectomia.

MITO. A cirurgia não altera o volume ou as características macroscópicas do sêmen, mesmo porque, apenas uma pequena fração do volume do sêmen é produzida pelo testículo, com a maior parte dele sendo produzido nas vesículas seminais e próstata. A ausência dos espermatozoides não pode ser notada por nenhuma característica visível no sêmen sem a ajuda de um microscópio.

 

 

Dr. Milton Ghirelli Filho